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segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Terrível Morte do Adido do Consulado Português



Quando se pensa em livros de romance policial, logo somos remetidos ao minucioso mundo de Agatha Christie, iniciado no começo do século XX, ou na inquestionável lógica de Arthur Conan Doyle, que curvou a Inglaterra Vitoriana aos pés de seu fascinante Sherlock Holmes.

Tanto a emblemática personagem de Doyle auxiliada pelo Dr. Watson quanto as intrincadas tramas dos enredos da dame Christie, mudaram os rumos dos romances policiais criando escola. Como não dizer que o espião James Bond, debutado em um livro lançado por Iam Fleming em 1953, é uma espécie hightech de Sherlock Holmes da Guerra Fria?

O gênero – um dos mais vendidos de todos – costuma se dividir entre histórias nas quais vários suspeitos são lançados durante o desenrolar da trama (Who done it?), enredos vividos por personagens reais em um cenário cru e violento (noir), romances protagonizados por juristas que precisam provar a culpa ou a inocência de alguém (thriller jurídico), médicos que usam seus conhecimentos para elucidar crimes (thriller médico) ou tramas que envolvem intrigas internacionais e conspiradores nos mais altos postos do poder (espionagem).

A literatura brasileira certamente não pode ser citada como um ninho de ricas personagens de romance policial, tendo outros gêneros como suas bases de publicação.

Alguns poucos – como Garcia Roza (O Silêncio da Chuva), Nilton Cordeiro (O Sequestro de Nienia), Rubem Fonseca (Bufo & Spallanzani), Tony Bellotto (Bellini e a Esfinge) e Pedro Bandeira (Pântano de Sangue) – mantêm um nível de seriedade e qualidade bastante razoáveis ao gênero tupiniquim da investigação, mesmo em contos juvenis.

Outros, no entanto – como Jô Soares (O Xangô de Baker Street) e Luís Fernando Veríssimo (Ed Mort & Outras Histórias) – misturam humor com investigação distorcendo o gênero e, mesmo que inadvertidamente, corroborando para minar a credibilidade do romance policial brasileiro.

Mas eis que há cerca de uma semana pude ler algo que ressalta os brios dos detetives nacionais: a obra ‘A Terrível Morte do Adido do Consulado Português’.

De autoria do advogado blumenauense Fernando Henrique Becker Silva (Zur Friedenspalme, 2005), o livro consiste em três contos que ressaltam o brilhantismo do detetive Machado da Maia – este sim um representante genuíno do gênero policial que nada deixa a desejar a Holmes ou Poirot – lidando com seqüestros, intrigas internacionais e assassinatos.

Não apenas a história central – que conta o desfecho do assassinado do adido (espécie de consultor contratado por um consulado) – mas todos os contos escritos por Fernando merecem atenção e vão extrair do leitor cada milésimo de sua curiosidade.

Ambientado nos anos 30 – época na qual, diga-se de passagem, as melhores histórias de detetives aconteceram (dos pulps como Dick Tracy até as verídicas manchetes de jornal estampadas com casos envolvendo a Máfia de Chicago) – e com uma impressionante riqueza de detalhes nos lugares onde ocorre, o livro é uma obra prima.

Passa longe da premissa forçada que Jô Soares tentou imaginando uma vinda de Sherlock Holmes ao Brasil e torna mais real e até nacional um detetive brasileiro – negro e ex-militar – que começa sua história em Blumenau e termina além das fronteiras de nosso país.

Para quem aprecia o gênero, ‘A Terrível Morte do Adido do Consulado Português’ é leitura obrigatória.

Agora o mistério que fica no ar é: será que o brilhante detetive Machado da Maia voltará a resolver crimes em novos livros? Esperamos que sim!

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